A história se repete: CSN impede trabalhadores de fazer greve usando força policial
Sindicato sem resposta sobre proposta apresentada há quase quatro meses à CSN
Publicado: 31 Maio, 2022 - 16h44 | Última modificação: 31 Maio, 2022 - 17h24
Escrito por: Tatiane Cardoso

CSN com lucro bilionário. Acionistas satisfeitos. Inflação acima de 12% e trabalhadores oprimidos. Dia após dia os trabalhadores dos terminais de Contêineres e Carvão, do Porto de Itaguaí, na região metropolitana do Rio de Janeiro, precisam lidar com essa realidade. E na manhã desta terça-feira (31) mais uma prática antissindical foi realizada pela empresa, que ao tomar conhecimento da deflagração de greve que aconteceria ainda na madrugada, impediu que a direção do Sindicato dos Portuários do Rio de Janeiro e a comissão dos trabalhadores para a negociação do Acordo Coletivo de Trabalho conversasse com os trabalhadores na entrada do Porto.
Passam os anos e a CSN mantem o mesmo critério de intimidação. Utiliza interlocutores para pressionar a categoria a aceitar o que é oferecido pela empresa sem questionamentos. Aqueles que protestam acabam demitidos. Diante da pressão, e com medo de represálias, desistem de lutar por melhorias nas condições de trabalho, que incluem reajustes dignos de salários e benefícios no período da data-base (1º de maio) com a revisão dos Acordos e Convenções Coletivas da categoria.
“Esse é o retrato que vivemos atualmente. Parece que voltamos no tempo, quando há 34 anos acontecia uma greve na siderúrgica, que se tornou histórica e acabou com a morte de três operários”, recorda o presidente do Sindicato dos Portuários do Rio de Janeiro, Sérgio Giannetto. A referência é à greve de 7 de novembro de 1988, quando os operários da siderúrgica, em Volta Redonda, iniciaram uma das maiores greves da categoria com o apoio da CUT. Eles lutavam pela implantação do turno de 6h, reposição de salários usurpados por planos econômicos e reintegração dos demitidos por atuação sindical. Em um ato de clara perseguição política, com intuito de calar e oprimir os trabalhadores, o exército brasileiro tentou interromper o movimento de greve e matou três metalúrgicos. Com gritos de ordem como “Operário produz, militar mata” a categoria resistiu e a greve foi mantida por mais 23 dias.
Para Giannetto, desde 2016, após o golpe promovido contra a presidenta Dilma, os grandes empresários tentam enfraquecer os sindicatos e, consequentemente, os trabalhadores e as trabalhadoras. “A economia do país vai de mal a pior. O atual presidente não gera empregos e nem renda. Não há perspectiva de melhoria nas condições de vida do trabalhador. Sem o aquecimento da indústria não temos ofertas de trabalho. E quem está empregado tem medo de ser demitido em meio a uma crise econômica, com inflação de mais de 12%”, explica Giannetto, ao demonstrar como a categoria está fragilizada diante dos desmandos da direção da CSN.
“Infelizmente não temos aqui no Brasil, assim como acontece em diversos países do mundo, uma legislação de práticas antissindicais que dê para enquadrar essas empresas por esses absurdos que fazem”, avalia o secretário Nacional de Assuntos Jurídicos da CUT Brasil, Valeir Ertle. Para ele, a situação ainda fica pior quando o governador, no caso do Rio de Janeiro, Cláudio Castro), coloca a força policial a serviço do capital, ameaça os trabalhadores e os dirigentes sindicais e os impede de mobilizar a categoria para reivindicar por melhores condições de trabalho.
Ele explica que num momento como o atual, com arrocho salarial, é extremamente importante que os sindicatos se mobilizem numa tentativa de minimizar os prejuízos que a classe trabalhadora atravessa nesse governo. “Temos que denunciar as empresas com prática antissindical na Organização Internacional do Trabalho (OIT). Os sindicatos fazem parte dos pilares da democracia, tão atacada ultimamente pelos governos municipais, estaduais e federal”, conclui Valeir.
Sindicato sem resposta sobre proposta apresentada há quase quatro meses à CSN
O Sindicato dos Portuários do Rio apresentou em fevereiro uma proposta de reajuste, mas até hoje, quase quatro meses depois, a CSN ainda tenta impor uma proposta bem abaixo dos anseios da categoria. “Essa prática é antiga. Eles impõem a mesma proposta para todas as categorias da empresa: metalúrgicos, mineiros e portuários. Temos realidades diferentes e precisamos chegar a um consenso”, explica Giannetto.